Data: 12/03/2010

VW Voyage I-Motion

Por: Licináira Barroso e Amintas Vidal Fotos: Eduardo Lozzi

Conforto por um preço justo

Você deve estar se perguntando como o título desta matéria não fala em soluço, balanço ou algo parecido. Afinal, os câmbios automatizados causam certo desconforto no intervalo entre uma marcha e outra — apesar de o I-Motion, da Volkswagen ter melhor acerto que os da concorrência.

Mas chegou a hora de a imprensa especializada analisar o custo-benefício desta tecnologia e não somente comparar os câmbios automatizados com câmbios automáticos convencionais, que são realmente mais confortáveis, mas custam duas a três vezes mais.

De forma mais didática, podemos comparar os câmbios automatizados ao Adriano, atacante do Flamengo, e os câmbios automáticos convencionas ao Ronaldo, atacante do Corinthians. Ambos cumprem muito bem com o seu dever: fazer gol. A diferença é que o Adriano é pouco sutil e o Ronaldo, apesar dos quilinhos a mais, é muito sutil. O valor do passe de um é o dobro do outro e ambos os valores estão acima da média de mercado. Entendeu?

Se você fosse presidente de um time de futebol, não tivesse dinheiro para comprar o Ronaldo, mas pudesse sim comprar o Adriano, ficaria com ele ou compraria dois atacantes sem brilho algum?

Foi isso que o AUTOPISTA concluiu ao testar o Voyage I-Motion em viagens por cidades de Minas Gerais e do Espírito Santo. Se você quer que seu time faça gol, isto é, quer o conforto de não precisar acionar a embreagem e passar as marchas milhares de vezes, vale a pena pagar entre dois e três mil reais pelo Adriano, isto é, pelo câmbio automatizado.

No câmbio automático convencional, não existe ligação sólida entre o motor e as rodas do carro. Simplificando o que acontece, existe uma caixa repleta de óleo com duas turbinas muito próximas uma da outra. Esta caixa é o conversor de torque. A turbina ligada ao motor gira empurrando o óleo contra a turbina ligada à roda, o que faz o carro andar. Entre o motor, o conversor de torque e a roda existe uma caixa de marchas que determina as relações, assim como em um carro com câmbio manual. A grande diferença é que quando você tira o pé do acelerador, freia e pára o carro, o motor não morre, pois a tração é apenas hidráulica e não física como no caso do atrito entre as partes do conjunto de embreagem. É essa tração hidráulica que permite a tal sutileza “Ronaldiana”.

O câmbio automatizado é um sistema semelhante ao câmbio manual comum. Ele tem inclusive o sistema de embreagem composto por disco, platô e colar. Sua grande diferença é que sistemas suplementares hidráulicos ou eletro-hidráulicos acoplam e desacoplam a embreagem, isto é, fazem por você todo o trabalho de pisar e soltar a embreagem. Outro sistema semelhante passa as marchas por você. O único trabalho do motorista é acelerar e frear.

Nos câmbios automatizados o soluço ou balanço dos ocupantes do veículo se dá no momento entre uma marcha ser desacoplada e a seguinte acoplada. Neste intervalo, o giro do motor cai, a caixa fica em ponto morto e, por inércia, as pessoas vão para frente. Quando a marcha seguinte é engatada, o carro traciona e as pessoas voltam para trás.

Ai você nos pergunta por que isso não acontece nos câmbios manuais quando somos nós que fazemos todo este processo de apertar a embreagem, trocar a marcha e soltá-la novamente. Boa pergunta.

Não temos uma informação técnica conclusiva, mas por observação nas diversas avaliações que fizemos, acreditamos que uma das possibilidades para essa diferença está na sensibilidade que temos ao soltar a embreagem. Por mais mecânico que pareça nosso ato, cada vez que usamos a embreagem, dosamos o tempo da ação conforme a necessidade do carro.

Lembra quando você foi aprender a dirigir? Com certeza você deixou o carro morrer por não saber como fazer e a sensibilidade foi se apurando depois de cada dia dirigindo. Por mais parâmetros que a central de comando do câmbio automatizado possa analisar, o tempo de acionamento da embreagem não ocorre de forma tão perfeita como fazemos.

Durante a avaliação do Voyage o balanço variou dos maiores aos quase imperceptíveis. Em baixa velocidade, entre a primeira e a segunda e entre segunda e a terceira marcha, normalmente em ruas com aclives percebe-se mais. Em velocidades maiores em ruas e, principalmente, em estradas planas quase não se sente as marchas passarem. O quanto esta característica dos câmbios automatizados incomoda, varia de um motorista para o outro. Para nós, o Voyage I-Motion trouxe mais prazer que desconforto ao dirigir.

O CÂMBIO I-MOTION

O câmbio I-Motion da VW é bem interessante, chega a ser divertido. Você pode escolher andar em “D” (as marchas são avançadas ou reduzidas automaticamente) ou em “M” (com toques para frente na alavanca você avança as marchas e com toques para trás, você reduz as marchas).

O modelo testado era equipado com o volante com controle “I-Systen” que além do som e do computador de bordo, possui aletas com comandos “+” e “-” atrás do volante para avançar e reduzir as marchas sem a necessidade de tirar a mão do mesmo.

Com toques para esquerda na alavanca de marchas muda-se de automático (“D”) para manual (“M”) a qualquer momento. O mais bacana é que você pode deixar sempre em “D” para usufruir do conforto de não precisar passar as marchas e, quando quiser reduzir uma marcha, por exemplo, basta usar a alavanca de câmbio ou as aletas do volante que ele obedece na hora como se estivesse no manual. Enquanto você estiver interferindo, ele continua respondendo à sua condução manual. Porém se você ficar um tempo sem interferir ou parar em um semáforo, ele retorna ao automático sozinho.

Outro recurso é a tecla “S” de Sport. Quando acionada o câmbio passa as marchas aproximadamente mil rotações acima ao que faria na posição “D”. O carro fica bem mais esperto e em alguns casos sente-se menos o balanço das passagens de marchas, porém, o consumo aumenta consideravelmente. É melhor usá-la apenas em ultrapassagens e para ocasionar freio motor sem precisar reduzir no modo manual.

Todos estes recursos aparecem no display digital do computador de bordo localizado entre o velocímetro e o conta-giros, mesmo assim, nas primeiras vezes que usamos é um pouco confuso. Com a prática fica tudo fácil e todas essas possibilidades tornam os câmbios automatizados muito mais versáteis que os câmbios automáticos convencionais.

Uma observação importante é que o I-Motion só liga se a alavanca estiver em “N”, isto é, ponto morto e se o pedal de freio estiver acionado. Para estacionar, a alavanca também deve estar nessa posição, contudo, o freio de mão deve sempre estar muito bem “puxado”, pois o carro não pode ser desligado com uma marcha engrenada.

Em resumo, o automatizado não é um automático como pontuam quase todos da imprensa, mas eles vão muito além dos seus defeitos e em nossa opinião é uma excelente opção para quem quer conforto a um preço justo.

CONFORTO

Como todos os sedans compactos, o Voyage oferece melhor conforto de marcha que o hatch que lhe deu origem, no caso, o Gol. Isso se deve à melhor distribuição de peso na parte traseira fazendo com que a oscilação horizontal da carroceria ocorra em uma freqüência mais baixa, tratando melhor todos os ocupantes do carro principalmente os que vão no banco de trás. Sua suspensão dianteira está acima da média para a categoria. Ela é a mesma do Polo europeu e garante uma incrível estabilidade transferido pouco as irregularidades do piso para dentro da cabine. Andar com o Voyage é muito confortável. Em determinados momentos parece que estamos em um sedan de categoria superior.

O que destoa da excelente mecânica é a ergonomia. O banco é baixo, estreito e sua regulagem em altura é para inglês ver: o assento apenas inclina, mas não se eleva em relação ao solo. Os comandos do ar-condicionado apesar da boa aparência estão um pouco baixos no painel e não tem indicação de posição muito definida. Para piorar, eles giram sem limite para os dois lados o que dificulta muito saber o que eles estão realmente marcando. Os botões de acionamento dos vidros elétrico dianteiros estão localizados nos puxadores das portas em posição levemente recuada, o que obriga um recuo excessivo das mãos para acioná-los e os piores são os comandos dos vidros traseiros que inexplicavelmente estão na parte central do painel. É preciso esticar os braços para alcançá-los.

O fechamento dos vidros se faz pelo controle remoto embutido na chave que é do tipo canivete. Ele trava as portas, eleva todos os vidros e ainda tem um botão para abrir o porta-malas. Ao acioná-lo o alarme destrava e ao fechar a porta ele arma automaticamente. Tudo muito prático.

O volante tem o mesmo design do Passat CC. Ele tem tamanho, espessura do aro e pega muito boa. O revestimento em couro traz sofisticação, mas, para quem tem as mãos mais secas, não é tão agradável ao toque. Seus comandos estão em boa posição e controlam o som e o computador de bordo.

O som é completo com leitura de MP3, cartão SD e pen drive, além de contar com Bluetooth. Todos os recursos funcionam bem apesar de a qualidade do som dos alto-falantes não ser das melhores. O computador de bordo é bem completo. Ele marca consumo médio e instantâneo, velocidade média, distância percorrida e tempo decorrido. Alguns itens podem ser usados em uma segunda lista e outras programações podem ser feitas. Porém, seu uso não é dos mais fáceis e intuitivos. Leva-se tempo para se adaptar.

Espaço atrás apenas para dois adultos e uma criança. O porta-malas tem um bom volume para um sedan compacto, mas os braços que sustentam sua porta não são do tipo pantográfico, como no Fiesta Sedan, por exemplo. Eles invadem o interior do bagageiro, exigindo maior atenção de quem organiza as bagagens, caso contrário a porta não fecha.

DESEMPENHO E CONSUMO

O motor 1,6 litros de 8 válvulas é o mesmo do Fox e do Polo com 101 /103 cv, com gasolina e álcool respectivamente. Ele tem bom torque em baixa rotação e garante bom desempenho principalmente em arrancadas e retomadas. O câmbio automatizado, assim como também faria um câmbio automático convencional, rouba um pouco do brilho do propulsor, mas, nada que o conforto que ele proporciona não compense.

Em circuitos urbanos, sempre rodando com gasolina, o computador de bordo registrou uma otimista média de 9,1km/l. Em estradas, “aferidos” por reabastecimentos, ele chegou aos 13,5 km/l. Dez por cento a mais de consumo real já seria uma boa média, considerando ser um modelo automatizado. Teoricamente, um veículo com câmbio automatizado seria mais econômico que o mesmo com câmbio manual normal. Isto se deveria ao fato de a central de comando passar todas as marchas no momento ideal. Na prática, o pé direito é que manda no consumo. Se você acelerar e principalmente frear o menos possível, estará dirigindo de forma mais econômica. Como no carro com câmbio manual, você consegue maior domínio, acaba que ele ainda se torna mais econômico, contrariando a publicidade das montadoras. É importante lembrar que em relação aos câmbios automáticos convencionais, os automatizados realmente proporcionam maior economia, e, como dissemos acima, eles são quase tão confortáveis e muito mais baratos, ou melhor, menos caros.

CONCLUSÃO

O Voyage já era uma excelente opção de sedan com mais virtudes do que defeitos. Agora, com a possibilidade do câmbio I- Motion, esta opção se torna mais interessante ainda.

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