Data: 10/12/2010

Focus Hatch Guia 2.0 Flex

Por: Amintas Vidal Fotos: Eduardo Lozzi

Dezoito meses após o lançamento do novo Focus 2.0 a gasolina, finalmente chegou ao mercado nacional o motor flex. Ele é mais moderno que seu antecessor, pois tem coletor de admissão variável e novo módulo de injeção da Bosch. Essas mudanças visam minimizar a falta de torque em baixas rotações deste motor que tem 16 válvulas. Outra vantagem seria melhor rendimento com os dois combustíveis já que novo módulo de injeção é específico para o motor flex.

O AUTOPISTA passou uma semana com o maior vencedor de comparativos do nosso mercado para saber por que o volume de vedas do Focus não corresponde ao seu desempenho nestes confrontos. Descobrimos mais qualidades que defeitos e, como todos da imprensa suspeitam, há mais erros na promoção do produto do que nele próprio.

UM MÉDIO MUITO BEM ACABADO

É na Europa que o Focus faz mais sucesso. Antes do lançamento do novo Fiesta, ele era o carro mais vendido da Ford naquele exigente mercado. O nosso Focus é fabricado na Argentina e importado com a isenção de impostos para carros produzidos e comercializados entre países do Mercosul.

Analisando fotos do modelo fabricado na Europa, o acabamento de ambos parece igual. Comparado aos seus concorrentes diretos (VW Golf, Fiat Stilo, Chevrolet Vectra GT, Peugeot 307 e Citroën C4 – todos fabricados também no Mercosul), o Focus Hatch apresenta um acabamento um pouco superior, mas, se compararmos ao líder da categoria, o sul-coreano Hyundai i30, o páreo fica muito mais duro.

O modelo do nosso teste é o Guia. Além de melhor acabado que o GLX, seu único opcional é o câmbio automático e pintura metálica. Ele vem com bancos, painéis das portas e volante revestido em couro de boa qualidade e costura pespontada em linha branca. Sofisticação com “pitadas” de esportividade.

O painel é revestido de emborrachado preto. Já o console central, em plástico rígido, tem uma textura em tom cinza que simula a malha da fibra de carbono. O design também mescla elementos elegantes como as saídas de ar ovais, o volante de quatro raios e as maçanetas planas cromadas (as mais belas entre os carros desta categoria) e elementos esportivos como os copos que circundam os quatro instrumentos analógicos do painel e o pomo da alavanca de câmbio e o botãostart/stop que tem o centro em laca piano e cromados nas extremidades.

EQUIPAMENTOS DE SÉRIE

Outro ponto forte desta versão é a profusão de equipamentos de série. Os menos comuns são a ignição por botão localizado no console central e o comando por voz que controla desde o som, passando pela agenda do telefone celular e culminando na regulagem da temperatura do ar-condicionado.

A chave não tem o corpo metálico comum a quase todos os carros, apenas a parte plástica com os botões que comandam a abertura das portas. Basta estar com ela dentro do carro, pisar no freio e no pedal de embreagem ao mesmo tempo (no caso do carro com câmbio automático a alavanca tem que estar em “P”) e acionar o botão start/stop para o carro ligar.

Para desligar, basta pisar no freio e acionar novamente o botão. Este sistema passa uma esportividade de carro de competição, mas, não é tão prático como parece. O ideal são sistemas mais completos como os da Audi e da Kia, por exemplo, que nem para abrir as portas é preciso pegar as chaves. As portas destravam quando o motorista se aproxima do carro e travam quando ele se afasta. Neste caso a “chave” fica sempre no mesmo lugar, bolso, bolsa, etc.

O sistema de comando por voz é muito bom para que o motorista não precise tirar as mãos do volante nem para ligar o ar-condicionado. As principais funções de climatização, áudio e telefonia são acionadas por voz que é reconhecida por palavras e frases padronizadas. No principio não é simples lembrar-se de todas, mas, com o passar dos dias fica mais fácil.

Além destes equipamentos menos comuns, destacam-se a direção eletro-hidráulica (que possui regulagem de “pesos”, normal, conforto e esporte, melhorando ainda mais a excelente dirigibilidade deste hatch), o teto solar com acionamento elétrico, ar-condicionado automático digital de duas zonas e som com entrada USB, iPod, leitor de CD MP3 e Bluetooth, além de todos os outros básicos para a categoria. Já no quesito segurança, o Focus conta com duplo airbag, ABS, discos de freio nas rodas traseiras, cinto de 3 pontos e encosto de cabeça para os cinco ocupantes, entre outros tantos.

POR DENTRO DO FOCUS

O espaço interno do Focus é um dos melhores da categoria. Sua grande largura garante espaço para os ombros de dois adultos e uma criança com sobra no banco de trás. Com certo conforto ele comporta até 3 adultos atrás e todos vão bem seguros com os já citados cintos de 3 pontos e encosto de cabeça. Na frente sobra espaço para motorista e carona. Os bancos são largos e confortáveis, apesar de não apoiarem bem em curvas. Inexplicável mesmo é a posição do extintor de incêndio que fica à frente do banco do carona e incomoda como em nenhum outro carro que já testamos. A Ford deveria rever o seu posicionamento.

A ergonomia é muito boa e todos os comandos são bem localizados. O volante tem comandos do computador de bordo, sistemas de som e telefonia além do piloto automático. São tantos botões e alavancas que é preciso de um tempo para acostumar. No princípio é mais fácil esticar o braço e acionar tudo isso que fica bem a mão no painel central – exceto o piloto automático que é apenas no volante. A melhor opção é mesmo acionar o “Speak” no comando de áudio que fica na coluna de direção e começar a interagir com a “moça” do sistema, pedindo as opções de áudio, telefonia ou climatização.

A melhor posição de dirigir é facilmente encontrada neste Ghia. Ele tem regulagem elétrica da altura do banco além de altura e profundidade da coluna de direção – existente também no GLX. O volante permite boa empunhadura. A leitura dos instrumentos e a visibilidade para todos os lados do carro é muito boa. Ajudam nesta visibilidade os grandes retrovisores externos e a janela espia na coluna “C” que normalmente é suprimida pela maioria dos designers como um caminho mais fácil para dar robustez aos carros mesmo que sacrificando uma janela tão importante. O design do Focus mostra que, com competência, é possível fazer um carro belo, robusto e seguro.

O porta-malas do Focus hatch está apenas na média da sua categoria, mas apresenta dois grandes defeitos. Primeiro ele é muito raso, o que não ajuda a transportar objetos mais quadrados. Segundo, no espaço destinado ao estepe só cabe uma roda com pneu de emergência que é mais fino, tem limitação de velocidade e é caro para ser substituído.

CONFORTO ACIMA DA MÉDIA

O grande diferencial do Focus para a maioria da concorrência é a sua excelente suspensão: independente tanto na dianteira como na traseira. Em asfalto liso ele roda silencioso e com um comportamento exemplar. Parece que estamos flutuando. A oscilação vertical é muito suave e ocorre em baixa frequência para um hatch — isso porque a suspensão traseira multi-link quase anula aquela tendência de pular que todo carro que não tem o volume do porta-malas apresenta.

Porém, em asfalto precário, “raríssimo” em nossas ruas, o conforto ao rodar é abalado pelo barulho desta mesma suspensão. Ela sofre com a nossa buraqueira e, assim como a suspensão do C4 (que, mesmo não sendo tão moderna), também reclama do mau trato.

Hoje que já temos boa parte dos modelos europeus, é mais fácil invejar suas estradas bem acabadas que suas opções de carros. Se depender dos populistas PACS da vida e seus gestores, vamos sonhar por muito mais tempo…

DESEMPENHO E CONSUMO

O novo motor 2.0 flex perdeu um 1 cv quando abastecido só com gasolina, mas, ganhou 3 cv quando abastecido só com etanol, isto em relação antigo propulsor que aceitava apenas gasolina. Agora são 143/148 cv de potência e 18,8/19,5 kgfm de torque, respectivamente com gasolina e etanol. Estes bons números poderiam garantir bons resultados em nossa avaliação, mas, a condição em que se encontrava a embreagem do Focus de teste, comprometeu o seu desempenho.

O carro que testamos fez parte da frota de lançamento da nova motorização e já estava com 15.000 quilômetros rodados. Como em avaliações os modelos são muito exigidos, a embreagem estava gasta além do normal e prejudicou os resultados. Nas arrancadas ele custava a sair da inércia e só passava a ser eficiente em rotações mais elevadas. Podemos dizer que o motor dormia abaixo dos 3.000 rpm, abria os olhos entre 3.000 e 4.000rpm e só acordava mesmo acima disso. Porém, quando acordava era um show de desempenho. O motor enchia rapidamente de forma progressiva, elástica e roncava alto, mas, agradavelmente. Parecia um carro mais esportivo que familiar.

A diferença de desempenho antes das 4.000 rpm e após essa rotação era tão grande que algo além da embreagem não estava correto. Oscilações na marcha lenta, mesmo com o motor em temperatura ideal, poderia ser um indício de problemas no sistema de injeção também. Não acreditamos que este seja o normal deste motor. Fora este inconveniente, seu desempenho foi exemplar.

O consumo também não foi dos melhores, registrando 8,7/5,6 km/l na cidade e 11,8/9,8 km/l na estrada com gasolina e etanol respectivamente.

EXIGINDO DO GHIA

A grande bitola (distância entre duas rodas de um mesmo eixo) e uma carroceria sem exagero na altura torna o Focus muito estável e mesmo em altas velocidades ele manteve-se grudado ao chão. Nas curvas a já citada eficiente suspensão manteve o carro na trajetória com pequena inclinação da carroceria e sem tendência a desgarrar tanto de frente como de traseira e, apesar da roda de aro de 16 polegadas e pneus série 55, as imperfeições do piso foram muito bem absorvidas para uma condução tão esportiva.

Quando carregado com três adultos e pouca bagagem, ele ainda mostrou fôlego, mesmo com o ar-condicionado ligado e subindo serra.

Além de apresentar excelente desempenho quando exigido, este Focus tem excelente trabalho acústico e roda silencioso quando o piso ajuda. Mesmo em giros elevados o ronco do motor que invade a cabine não chega a incomodar. Rodando suavemente, quase não se ouve o motor, porém, em manobras de ultrapassagem e em retomadas de velocidades em que o motor atinge a rotação máxima de segurança, o barulho chega a incomodar, mas o seu desempenho enche de orgulho qualquer proprietário.

Deve ser baseada neste e em outros tantos bons motivos para se orgulhar do Focus que a agência de propaganda que atende a Ford no Brasil criou uma nova campanha em que são os proprietários que “vendem” o carro para os potenciais compradores. Vamos ver se agora as vendas passam a corresponder à qualidade do produto.

Galeria de Fotos

Compartilhe

Deixe o seu comentário